segunda-feira, 10 de agosto de 2009

"Cotovia"




-Alo cotovia!

Aonde voaste,

Por onde andaste?

Que saudade me deixaste?

-Andei onde deu o vento.

Onde foi meu pensamento

Em sítios, que nunca viste,

De um país que não existe...

Voltei, te trouxe alegria.

-Muito contas, cotovia!

E que outras terras distantes

Visitaste? Dize ao triste.

-Líbia ardente, Cítia fria

Europa, França, Bahia...

-E esqueceste Pernambuco

Distraída?

-Voei ao Cais

Pousei na Rua Aurora.

Aurora da minha vida

Que os anos não trazem mais!

Os anos não, nem os dias,

Que isso cabe às cotovias.

Meu bico é bem pequenino

Para o bem que é deste mundo:

Se enche com uma gota de água.

Mas sei torcer o destino,

Sei no espaço de um segundo

Limpar o pesar mais fundo.

Voei ao Recife, e dos longes

Das distâncias, aonde alcança

Só a asa da cotovia,

-Do mais remoto e rerempto

Dos teus dias de criança

Te trouxe a extinta esperança,

Trouxe a perdida alegria.

Manuel Bandeira