terça-feira, 4 de novembro de 2008

"Tenho Razão"



Tenho razão de sentir saudade,
Tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste e sem te
despedires foste embora.
Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral,
A comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação até o limite
das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
Enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação,
O ato em si, O ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
De nossa convivência em falas camaradas,
Simples apertar de mãos, Nem isso, Vozmodulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades. Sim, Acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste.
Carlos Drummond de Andrade

Nenhum comentário: